Por Dai Varela

Cantor natural da Praia, Cabo Verde, Romeu di Lurdis abraçou o desafio de uma carreira na música, sempre cantando o amor e com letras que resgatam o tradicional. O seu álbum de estreia “Amoransa” é um sonho realizado e agora está a colher os bons frutos de ter acreditado no seu projeto.

Carlos Manuel Tavares Lopes, adotou o nome artístico de Romeu di Lurdis para conquistar o seu espaço no cenário musical. Iniciou-se em 2008, gravando as primeiras canções na cidade da Praia como um cantor mais melancólico e introspetivo, mas hoje imprime maior alegria às suas letras e isso reflete-se também ao adotar mais cores na sua imagem artística e de palco. Em 2013, logo após participar do concurso televiso “Talento Strela” teve a ousadia de apresentar a sua música original “Mudjer” tendo conseguido uma popularidade que ultrapassou Cabo Verde e assim passou a assumir cada vez mais a sua linha artística e a aposta na originalidade. A partir de lá cria o grupo musical “Ramantxadus”, com uma vertente tradicional através de acordes bem simples e criações numa fase naïf que lhe valeram vários convites para apresentações internacionais.

E chega então 2017, quando entra na fase mais profissional para gravar em estúdio com artistas com longo percurso e assim realizar um sonho antigo. Neste tempo teve as alegrias de ver suas composições gravadas por outros cantores. Por exemplo, a música “Dja n Rastora” cantada pela Sara Tavares, depois “Fera na Sukupira” por Ceuzany, “Vistu Merka” na voz da Neuza de Pina e também “Pon diFonga” interpretada pelo grupo Ferro Gaita.

Romeu di Lurdis é um cantor da realidade social, da vivência do dia a dia, e o seu álbum de originais de estreia “Amoransa” retrata a simplicidade e as relações quotidianas do povo e da juventude, das tradições orais, do apego à terra, mas também canta o amor romântico, a saudade e a partida. Pode assim dizer-se que as duas temáticas fortes de “Amoransa” são o amor e a tradição. Quem ouve o tema “Boita Na Fazenda” poderá sentir o ambiente dos rabidantes nas carrinhas ‘hiace’, no movimento pendular entre a capital e o interior de Santiago. Já o tema “Txitxaru Fresku” retrata a vida do mar, enquanto a música “Vida Di Studanti” canta os desafios que os estudantes enfrentam nas universidades nacionais. A música “Fera Na Sukupira” tem o pulsar do ambiente comercial dos rabidantes no mercado, enquanto “Paraizu Praia” é uma homenagem à cidade capital. É possível desfrutar de uma morna em “Barku Di Alentu” que reforça um pouco os conceitos de despedida, distância e saudades. Para falar de amor e tradição, a música “Nha Rubera” faz uma grande viagem nas tradições orais através de parábolas, juntamente com o funaná “TirsiDJadu”, que canta um amor proibido, e a música “MiDJor Mai Di Mundu” homenageia o amor à mãe. Na música “Ranja Ku Mi” conta com a parceria de Princezito para expressar a grandeza do crioulo para mostrar o seu valor como pessoa e assim conquistar uma crioula. No total, o álbum “Amoransa” contém 14 temas originais, sendo que apenas um não é inteiramente da autoria de Romeu di Lurdis.

Romeu admite sem receio que abraçou o projeto de construir uma carreira sólida na música e com isso enfrentar os desafios que vêm com esta decisão. É por isso que resolveu colocar uma maior exigência sobre si mesmo e assumir esta responsabilidade. Para Romeu di Lurdis o segredo está na tolerância e no investimento a longo prazo. É por isso que afirma não pretender ser o artista do momento, o que faz com que os seus trabalhos exijam maior reflexão para perdurarem no tempo.

Como produtor independente abraçou o desafio ter de esforçar-se para produzir o seu próprio disco. Um aprendizado que lhe valeu a experiência de acompanhar todo o processo da sua produção, desde a parte criativa, dos ensaios, gravação em estúdio, mas também as negociações com a impressão dos discos, a sua distribuição e o agenciamento de espetáculos. Um jovem cantor bem focado na sua carreira e que acredita que o sinónimo de sucesso é a perseverança no percurso, amor e esperança.