Fala-nos de ti?

Alzerina é uma cabo-verdiana que nasceu na pequena localidade da Garça, portalzinho, na ilha de Sto. Antão. Sente um orgulho enorme ser cabo-verdiana. Cresceu num ambiente de muito amor e carinho, assistiu de perto as dificuldades da mãe solteira, que trabalhava arduamente para criar cinco filhos, umas vezes no ramo de corte e costura até altas horas da madrugada e outras vezes como parteira. O facto de ter testemunhado todo esse sacrifício da minha mãe ajudou-me a crescer. Na minha adolescência, dizia a mim mesma que, um dia queria sair da localidade da Garça, da pobreza, trabalhar e vincar na vida para ajudar mais tarde, a minha mãe.

Sempre sonhei ver a minha mãe a dormir horas de sono normais como qualquer outra pessoa. Esta determinação levou-me a emigrar, dar outro rumo à minha vida, vencer e não ver crianças em Cabo Verde a usar sapatos pela primeira vez, aos 13, 14 anos como foi o meu caso. Sonho poder ajuda-las. Fazer com que não passem pelas mesmas dificuldades que passei outrora.

Emigração foi a solução que encontrou para realizar os seus sonhos?

Emigração nunca foi o meu sonho. Aconteceu! Foi uma necessidade. Digamos que foi mesmo um imperativo. Na verdade, desde pequena quis ter uma vida melhor, sair de Portalzinho, porque sentia que vivia numa caixa, sem poder realizar os meus sonhos. Foi ai que decidi ir para a capital do país. A minha irmã mais velha viu em mim uma sede de conquistar algo. Depois de algum tempo regressei a Sto. Antão e comecei a costurar para as pessoas da minha localidade. Foi ai que surgiu o gosto pelo mundo da moda, mas confesso: nunca pensei que fosse para um país tao longe de Cabo Verde: a França

Ali abri o horizonte e comecei logo e comecei a poder ajudar a minha mãe.

A adaptação num mundo a que não estava habitada, como foi?

Longe da família nem sempre é tao fácil. Em França comecei a trabalhar como empregada doméstica. Foi duro para mim, uma vez que não estava habituada a esse tipo de trabalho. Confesso que a minha adaptação não foi das melhores nos primeiros meses.

Passado algum tempo tive a sorte de trabalhar com a estilista de Daniel Swarovsky, um dos fundadores da empresa de cristais Swarosvsky. As coisas começaram a mudar quando ela me pediu para experimentar entrar numa área nova; no mundo o da moda. Foi fantástico!

Na verdade, descobri o gosto pela moda graças a minha mãe. Desde os meus quatros anos sempre sonhei com um mundo cheio de luzes. A costurar sinto- me outra. Mas depois descobrir como desenhar bijuterias, conceber peças que vão dar o toque final a uma pessoa. E tem sido nesse mundo que me tenho realizado nesse últimos anos.

Acabaste por deixar a França e fixar a residência em Nova Iorque. Porque?

Mudei de Paris para Nova Iorque em 1998 com toda a família, sem ideia do que ia fazer. Só sei que queria uma mudança na minha vida. Na época o meu marido aceitou o desafio, fizemos as malas e partimos para um novo mundo à procura de uma nova vida.

Antes de começar a fazer joias, costurava. Hoje contínuo a faze-lo mas de forma personalizada. Costurar é, de facto, a minha terapia. Em cabo verde já vesti muitos agora capricho nas joias para acompanhar as roupas. Gostaria que as minhas roupas alcançassem outros mercados nomeadamente.

Qual é hoje a tua imagem de marca?

Hoje, faço joias para todo o tipo de mulheres. Os meus produtos são feitos à mão e concebidos por um grupo de mulheres. Uso cristais e outros produtos mais acessíveis que resultam em duas categorias: A Alzerina e Alzy. A Ultima é uma coleção mais acessível, digamos para todo o tipo de eventos.

Tenho ainda peças que fazem parte da coleção Cabo Verde, cuja marca é uma pedra conhecida no arquipélago: o “Sibitxi”. Muita gente gosta e, por isso mesmo, a aceitação tem sido muito boa. Tenho também uma coleção para meninos: A “Alzery petite”. Peças que os meninos usam.

Qual tem sido a tua aceitação no mercado?

Tenho andado à conquista de vários mercados. O de Cabo Verde e da sua diáspora e outros espalhados pelo mundo. Pretendo, na verdade, que todas as mulheres tivessem uma peça “Alzerina”.

E qual tem sido a tua relação com a diáspora e com Cabo Verde?

Minha relação com a comunidade na diáspora ou com Cabo Verde é importante para mim. Sinto orgulho de ter nascido cabo-verdiana e tento levar a imagem das ilhas bem longe. Sempre que tiver evento na diáspora para representar Cabo Verde participo de corpo e alma, sem hesitar.

Nos últimos meses, tive oportunidade apresentar a minha coleção na associação cabo-verdiana em Portugal depois fui para Paris e Itália onde trabalhei com uma associação “nos di Sto. Anton” e um outro grupo de emigrantes onde fizemos um desfilhe para ajudar hospital batista de Sousa, n ilha de S. vicente.

De facto, em 2016 fiz muitas atividades com a marca “Alzerina” Estivemos em Portugal onde representei Cabo Verde como mulher de inspiração num evento intitulado “ser mulher” onde falei da minha vida e do meu percurso.

Faço sempre questão de estar envolvida com a comunidade aqui nos Estados Unidos da América, dando apoio e ajudando sempre. Mesma coisa no meu país. Vou lá sempre. Cabo verde é a minha energia.

Como vai a tua vida profissional?

Tem sido normal, com altos e baixos. Tenho um trabalho que exige muito de mim que me obriga a ousar, a procurar mercado internacional. Hoje, a minha marca está em Itália, França Portugal e aqui nos Estados Unidos da América. Estou ainda a colaborar com outros países para levar nome “Alzerina”.

Hoje sinto-me bem quando vejo que as minhas bijuterias foram já utilizadas por grandes nomes como a Sheron Stones, (recomendada por warner brtohters), Olívia wilde, leila Lopes, ex Miss Universo, Catherine warwick, um amiga que sempre me apoiou e mostrou acreditar no meu trabalho. Nos seus filmes ou pessoalmente ela gosta de utilizar as minhas peças. Enfim, tantas outras celebridades já utilizaram as minhas peças em serie de televisão e grandes cerimónias públicas

Estou a trabalhar neste momento um projecto com a “Sony Pictures” que logo-logo terei oportunidade de anunciar.

Não me considero uma emigrante de sucesso. Considero ser uma emigrante cabo Verdiana que está à procura de um lugar ao sol.

Qual o teu sonho?

É de ter nome “Alzerina” em varias cidades importantes e levar o nome Cabo Verde a todos os cantos do mundo. Para já neste momento o meu desafio é conseguir autonomia financeira, porque tenho trabalho com capital próprio, sem qualquer parceria. Acredito no meu empoderamento, por isso desafio a mim mesma para ver ate onde posso ir. Mas é claro, tenho alguns receios. Não quero investir para depois não ter retorno no investimento.

Espero que um dia consiga um projecto de grande dimensão em Cabo Verde concebido pela marca “Alzerina”.

Tens tido apoios?

Tenho tido apoio de muitas pessoas em Cabo Verde, nomeadamente a primeira-Dama, Dra Lígia Fonseca, mas é claro que gostaria que as autoridades cabo-verdianas me ajudassem mais, que me abrissem portas a ponto de poder representar mais vezes o meu arquipélago por esse mundo fora. Há tempos, a Embaixada dos Estados Unidos na Praia, levou-me para a capital cabo-verdiana para representar EUA em Cabo Verde na Feira internacional de Cabo Verde (FIC). Queria que fosse inverso. Queria que Cabo Verde me levasse nos braços para outros mercados internacionais.

O que é sucesso para ti?

Para mim o meu sucesso reside no facto de ter escolhido uma área que me reconforta que me completa.