Juan José Ramos Melo

@JuanjoRamosEco

As zonas mais áridas e desérticas do arquipélago de Cabo Verde são o lugar onde habita uma das aves mais desconhecidas das ilhas. Muitos são os habitantes locais que nunca viram ou ouviram falar do Corredor, uma ave de tamanho médio especializada na vida entre as areias e os terrenos com escassa vegetação.

Ao caminhar pelas dunas o rasto dos seus passos trai a sua presença, sem o qual é muito difícil de observar, pois é um verdadeiro mestre da camuflagem. A cor da sua plumagem permite que passe completamente despercebido no meio das dunas, sendo os movimentos lentos em busca de alimentos e o hábito de dobrar o corpo e correr de um lado para o outro ao nível do solo algumas das suas estratégias para não ser visto.

Escaravelhos, gafanhotos e outros insetos são os pitéus que captura com a precisão de um cirurgião, usando o bico fixo e curto como se de um par de pinças se tratasse. Raramente é visto sozinho, é uma ave muito social. Vive todo o ano junto aos seus congéneres em pequenos grupos voando de um lado para o outro, exceto na época de reprodução. Aí separam-se para formar um casal que ocupa um território, que defendem afincadamente.

Alguns passos para a frente, mais uns para o lado, levantam a cabeça, depois o macho curva-se de maneira reverente, passado algum tempo a fêmea corresponde. Uma espécie de dança que faz parte do namoro lento e cuidadoso que marca o início da temporada de reprodução do Corredor. Um espetáculo perfeitamente medido que todos os anos, após a estação chuvosa, acontece nas planícies desérticas das ilhas.

Este especialista em vida extrema não é exclusivo de Cabo Verde, a maior parte da sua população mundial ocupa o deserto do Saara, a Península Arábica, alguns lugares do Leste Asiático e as Ilhas Canárias. Apesar de ocupar uma parte importante do planeta, não é uma ave muito comum, o que a torna realmente valiosa para muitos observadores de aves que viajam pelo mundo em busca de novas espécies para as suas listas pessoais. Em Cabo Verde também não é muito abundante, para poder observá-lo deve dotar-se de muita paciência. Com alguma sorte, depois de algumas tentativas poderá observá-lo durante as primeiras horas da manhã ou as últimas da tarde em Santiago, Sal, Boavista, Maio ou São Vicente, embora, como foi dito, não seja uma tarefa fácil.